domingo, 16 de março de 2014

ABGEPq nas reuniões da NCURA, San Francisco, EUA

Relato da participacão de Carlos Graeff Teixeira



Relatório Reunião NCURA 2014
San Francisco, CA, EUA

NCURA (National Council of University Research Administrators), criada em 1959, possui aproximadamente 7.700 associados, gestores profissionais de pesquisa.  Trata-se de uma organização muito ativa nos EUA, e aparentemente mais focada na gestão de pesquisa em Universidades.  Além da reunião anual, promove inúmeras formas de capacitação dos gestores, inclusive com workshops que viajam até as Universidades, conforme seus interesses.  A outra associação também originária dos EUA é a SRAI, aparentemente com uma atuação mais internacional e mais abrangente, além das Universidades.  Muitos gestores são associados às duas organizações e todos se reúnem bi-anualmente na reunião da INORMS (International Network of Research Managers Societies), a próxima em Washington, de 10 a 13 de abril.

Worshop, sábado, 15/03
Aproximadamente 100 pessoas, divididas em mesas redondas com 6 participantes, com material disponibilizado previamente, com vários estudos de casos sobre gerenciamento de projetos de pesquisa.
A discussão e aprofundamento são muito técnicos, a abordagem é muito séria e profissional.  Chama a atenção a quantidade de regras e instruções legais que existem nos EUA, o cuidado com o dinheiro público e sua correta aplicação para gerar os benefícios e/ou resultados previstos no projeto.
Várias vezes surgiu a questão do reação dos PIs (coordenadores de pesquisa, cientistas, "principal investigators") diante do gestor de pesquisa que é responsável pela adequação às regras e aos trâmites necessários.  Se falou que os cientistas mais jovens, em geral, são atenciosos, tem consciência da importância da gestão correta, embora haja uma necessidade (imagina o quanto isto é importante no nosso país) de melhorar o treinamento dos jovens.  Muitas universidades americanas, ao contratar um jovem pesquisador/professor, obrigam ele a participar e ser aprovado numa atividade rigorosa de capacitação.  Quanto aos mais velhos, risinhos na platéia, e o comentário de que estes são quem mais precisam destas capacitações, mas na prática e sem meias palavras, eles estão prestes a sair da vida universitária e, com isto, abrir espaço para novos pesquisadores melhor formados. Várias pessoas ilustraram casos em que pesquisadores que se recusavam a atender os preceitos de treinamento e atualização nas rotinas de gestão, eram demitidos.  Esta rigorosa determinação por excelência fica clara nas exposições e discussões deste workshop, o que nos falta muito, nas nossas Universidades brasileiras.  Nota-se claramente que este conjunto de profissionais da gestão em pesquisa tem consciência da importância do seu trabalho e que as instituições norte-americanas os tem como elementos do mesmo nível de importância do que os cientistas.  Estas duas comunidades fazem trabalho diferente mas convergente e completar e a otimização do tempo do cientista para o estudo, a reflexão, a criatividade e o trabalho em si da investigação é uma razão fundamental para a produção vigorosa e inovadora da ciência nos EUA e demais países com mesmas características de gestão e promoção de ciência de alta qualidade.
Uma boa parte do workshop, de dia inteiro, foi sobre despesas "aceitáveis" ou "não-aceitáveis ou não-financiáveis": imagine isto acontecendo no Brasil: o funcionário do "escritório de apoio a pesquisa" liga para o pesquisador principal de um projeto para dizer que tal despesa não pode ser coberta pelos recursos do auxílio.  Aqui nos EUA eles também teriam problemas com isto, porém já há uma mudança de cultura, de tal forma que, como uma das coordenadoras do workshop falou, apenas 10% dos cientistas resistiriam a esta abordagem, e quase todos estariam fadados a sair da vida acadêmica, por demissão ou aposentadoria.
Foi também salientado o quanto é fundamental, obviamente, o compromisso com este grau máximo de busca da excelência, por parte do alto escalão da administração unversitária.
Minha condição na platéia foi muito peculiar.  Não sou um gestor de pesquisas, estou na interface, momentaneamente.  Não entendia quase nada dos detalhes, siglas, "budgets items".   Me senti como um estranho no ninho, como efetivamente sou.  Mas extasiado do quanto temos que desenvolver este grupo de colaboradores, elevados à condição de igualdade com a comunidade de cientistas, para o bem maior da ciência e das instituições.